Na madrugada de hoje para amanhã temos o primeiro eclipse lunar total de
uma série de quatro a se desenrolar entre este ano e o ano que vem. É
uma “lua de sangue”? Um sinal do fim do mundo? Claro que não. Mas, sem
dúvida, trata-se de um belo espetáculo astronômico que vale a pena ser
visto, se você tiver a chance.
Um eclipse lunar nada mais é do que o fenômeno que acontece quando a
sombra da Terra encobre a superfície da Lua. O evento pode ser parcial
(se a sombra só cobre parte do satélite natural) ou total (encobrimento
completo). Não tem mistério.
Mas, então, por que o apelido sinistro, “lua de sangue”? Bem, primeiro que boa parte dos astrônomos nem curte essa expressão, justamente pela margem que dá para os viciados em apocalipse. Mas até entendo que popularmente o fenômeno possa ganhar esse nome, porque em seu momento mais espetacular a Lua fica com um tom avermelhado.
Por que isso acontece? Imagens falam mais do que mil palavras, então dê uma olhadinha nesse vídeo incrível feito pela Nasa, que mostra como o eclipse lunar (para os terráqueos) seria visto da Lua!
Entendeu? Quando o Sol está totalmente encoberto pela Terra, a única luz que consegue chegar à superfície lunar é aquela que atravessa a borda da atmosfera terrestre, num tom avermelhado. Aí a Lua reflete essa luz e aparece com aquele tom bizarro. Não tem mistério.
SUPERSTIÇÃO
Bem, como todo eclipse lunar total tem essa mesma coloração, com ligeiras variações, já se pode afirmar que uma “lua de sangue” não incomoda muita gente. Mas quatro luas vermelhas incomodam muito mais, não é?
Lamento informar os entusiastas do fim do mundo, mas uma coisa bonita sobre a maioria dos fenômenos celestes é que, embora algumas vezes sejam raros, eles são repetitivos. Tivemos uma sequência de quatro eclipses lunares totais entre 2003 e 2004 (nem preciso dizer que o mundo seguiu tranquilaço depois deles) e teremos outras sete ocorrências ao longo do século 21 (a próxima entre 2032 e 2033).
Isso me lembra a famosa história de como Cristóvão Colombo manteve o controle dos indígenas da Jamaica em 1504. Os nativos não queriam mais ceder provisões aos exploradores. De posse de um almanaque de efemérides, o navegador genovês sabia que em 29 de fevereiro aconteceria um eclipse lunar. Promoveu então um encontro com o cacique naquele dia e comunicou que seu Deus estava furioso com o tratamento que ele e seus homens estavam recebendo. Completou afirmando que o Senhor mandaria um sinal de sua insatisfação, fazendo a Lua nascer “inflamada pela fúria”.
Quando a indiaiada viu a “lua de sangue”, o horror tomou conta. Encheram-se de provisões e correram na direção das caravelas aportadas, implorando para que o almirante intercedesse com seu deus em favor deles. O navegante foi então à sua cabine para “orar”, certamente com um sorriso nos lábios. Monitorando o tempo do eclipse com sua ampulheta, só saiu de lá pouco antes do fim da fase total, que sabia que duraria 48 minutos, comunicando que o Senhor os havia perdoado. Logo a Lua voltaria a aparecer, deixando os nativos atordoados com a capacidade de Colombo de negociar as coisas com o pessoal “lá de cima”.
A história é verídica. Inacreditável mesmo é que cinco séculos depois ainda exista alguém capaz de cair nessa mesma conversa. Os eclipses não são sinais divinos. São apenas espetáculos celestes, momentos em que podemos nos colocar em sintonia com o Universo e apreender a beleza de seus movimentos. Saiba como aproveitar ao máximo o fenômeno que acontecerá logo mais!
COMO OBSERVAR
O eclipse poderá ser visto em todo o Brasil, mas num horário meio ingrato. O começo é à 1h53, mas essa fase é praticamente imperceptível, porque apenas parte da luz solar está sendo bloqueada pela Terra (diz-se que a Lua está sob a penumbra terrestre). Nosso satélite só começa a entrar na sombra forte mesmo (chamada de umbra) às 2h58. Aí a impressão é de que a Lua está sofrendo uma crescente “dentada”, até as 4h06, momento em que nosso satélite está completamente encoberto. É a partir daí que se começa a perceber a cor avermelhada. às 5h24, o satélite começa a sair da umbra e vai recobrando sua aparência natural. E aí acaba a festa para nós, porque a Lua vai se pôr no horizonte oeste, enquanto o Sol surge no leste.
De forma geral, não existe fenômeno natural mais fácil de observar. A olho nu já se percebe muitíssimo bem, e binóculos sem dúvida agregam valor. Telescópio pode ser bacana, mas o legal mesmo é ver a Lua por inteiro, então não são realmente necessários. A única coisa que pode impedi-lo de acompanhar o espetáculo é a nebulosidade. Torça para não estar nublado.
Aproveitando o ensejo, enquanto o eclipse rola, se você quiser ver um fenômeno adicional, pode procurar Marte, que anda bem pertinho de nós por esses dias e aparece bem vistoso no céu, vindo logo atrás da Lua, como um astro vermelho de brilho estático, sem cintilar. Com efeito, ele faz sua aproximação máxima de nós na atual temporada hoje e tem propiciado bom espetáculo aos observadores. Também é visível a olho nu, mas para enxergar detalhes do planeta, só mesmo com um telescópio poderoso.
O Mensageiro Sideral já abordou a aproximação de Marte recentemente, inclusive publicando uma imagem dos astrofotógrafos brasileiros Fabio e Gabriela Carvalho. Dias depois, essa mesma foto seria escolhida como “Astronomy Picture of the Day” pela Nasa!
Fonte: Folha de S.Paulo
Tá vendo algum sangue aí? |
Mas, então, por que o apelido sinistro, “lua de sangue”? Bem, primeiro que boa parte dos astrônomos nem curte essa expressão, justamente pela margem que dá para os viciados em apocalipse. Mas até entendo que popularmente o fenômeno possa ganhar esse nome, porque em seu momento mais espetacular a Lua fica com um tom avermelhado.
Por que isso acontece? Imagens falam mais do que mil palavras, então dê uma olhadinha nesse vídeo incrível feito pela Nasa, que mostra como o eclipse lunar (para os terráqueos) seria visto da Lua!
Entendeu? Quando o Sol está totalmente encoberto pela Terra, a única luz que consegue chegar à superfície lunar é aquela que atravessa a borda da atmosfera terrestre, num tom avermelhado. Aí a Lua reflete essa luz e aparece com aquele tom bizarro. Não tem mistério.
SUPERSTIÇÃO
Bem, como todo eclipse lunar total tem essa mesma coloração, com ligeiras variações, já se pode afirmar que uma “lua de sangue” não incomoda muita gente. Mas quatro luas vermelhas incomodam muito mais, não é?
Lamento informar os entusiastas do fim do mundo, mas uma coisa bonita sobre a maioria dos fenômenos celestes é que, embora algumas vezes sejam raros, eles são repetitivos. Tivemos uma sequência de quatro eclipses lunares totais entre 2003 e 2004 (nem preciso dizer que o mundo seguiu tranquilaço depois deles) e teremos outras sete ocorrências ao longo do século 21 (a próxima entre 2032 e 2033).
Isso me lembra a famosa história de como Cristóvão Colombo manteve o controle dos indígenas da Jamaica em 1504. Os nativos não queriam mais ceder provisões aos exploradores. De posse de um almanaque de efemérides, o navegador genovês sabia que em 29 de fevereiro aconteceria um eclipse lunar. Promoveu então um encontro com o cacique naquele dia e comunicou que seu Deus estava furioso com o tratamento que ele e seus homens estavam recebendo. Completou afirmando que o Senhor mandaria um sinal de sua insatisfação, fazendo a Lua nascer “inflamada pela fúria”.
Quando a indiaiada viu a “lua de sangue”, o horror tomou conta. Encheram-se de provisões e correram na direção das caravelas aportadas, implorando para que o almirante intercedesse com seu deus em favor deles. O navegante foi então à sua cabine para “orar”, certamente com um sorriso nos lábios. Monitorando o tempo do eclipse com sua ampulheta, só saiu de lá pouco antes do fim da fase total, que sabia que duraria 48 minutos, comunicando que o Senhor os havia perdoado. Logo a Lua voltaria a aparecer, deixando os nativos atordoados com a capacidade de Colombo de negociar as coisas com o pessoal “lá de cima”.
Rá! Pegadinha do Colombo! |
A história é verídica. Inacreditável mesmo é que cinco séculos depois ainda exista alguém capaz de cair nessa mesma conversa. Os eclipses não são sinais divinos. São apenas espetáculos celestes, momentos em que podemos nos colocar em sintonia com o Universo e apreender a beleza de seus movimentos. Saiba como aproveitar ao máximo o fenômeno que acontecerá logo mais!
COMO OBSERVAR
O eclipse poderá ser visto em todo o Brasil, mas num horário meio ingrato. O começo é à 1h53, mas essa fase é praticamente imperceptível, porque apenas parte da luz solar está sendo bloqueada pela Terra (diz-se que a Lua está sob a penumbra terrestre). Nosso satélite só começa a entrar na sombra forte mesmo (chamada de umbra) às 2h58. Aí a impressão é de que a Lua está sofrendo uma crescente “dentada”, até as 4h06, momento em que nosso satélite está completamente encoberto. É a partir daí que se começa a perceber a cor avermelhada. às 5h24, o satélite começa a sair da umbra e vai recobrando sua aparência natural. E aí acaba a festa para nós, porque a Lua vai se pôr no horizonte oeste, enquanto o Sol surge no leste.
De forma geral, não existe fenômeno natural mais fácil de observar. A olho nu já se percebe muitíssimo bem, e binóculos sem dúvida agregam valor. Telescópio pode ser bacana, mas o legal mesmo é ver a Lua por inteiro, então não são realmente necessários. A única coisa que pode impedi-lo de acompanhar o espetáculo é a nebulosidade. Torça para não estar nublado.
Aproveitando o ensejo, enquanto o eclipse rola, se você quiser ver um fenômeno adicional, pode procurar Marte, que anda bem pertinho de nós por esses dias e aparece bem vistoso no céu, vindo logo atrás da Lua, como um astro vermelho de brilho estático, sem cintilar. Com efeito, ele faz sua aproximação máxima de nós na atual temporada hoje e tem propiciado bom espetáculo aos observadores. Também é visível a olho nu, mas para enxergar detalhes do planeta, só mesmo com um telescópio poderoso.
O Mensageiro Sideral já abordou a aproximação de Marte recentemente, inclusive publicando uma imagem dos astrofotógrafos brasileiros Fabio e Gabriela Carvalho. Dias depois, essa mesma foto seria escolhida como “Astronomy Picture of the Day” pela Nasa!
Fonte: Folha de S.Paulo