R7 - Uma moradora de um bloco habitacional em Peckham, no sul de Londres, estava vivendo situações dignas de 'um filme de terror', como disse à BBC News. Larvas e vermes apareciam por todo seu apartamento, e as vezes chegavam a despencar do teto.
A origem dos bichos, infelizmente, é ainda pior. Eles estavam vindo da casa de cima, onde o corpo de Sheila Seleoane, de 61 anos, apodrecia desde 2019. A mulher, que vivia no prédio, morreu dentro da residência e ninguém percebeu.
Os vizinhos desconfiavam que algo estava errado, já que Sheila não era mais vista e, muitas vezes, o prédio era tomado por um cheiro 'estranho'. Três colegas da mulher chegaram a registrar seu desaparecimento em 2020, mas a polícia não deu retorno.
A vizinha que estava sofrendo com as larvas, que preferiu não se identificar, tentou obter ajuda dos locadores diversas vezes. Ao ligar para a Peabody, empresa responsável pelos apartamentos, ouviu que o grupo "não trata com larvas".
Outros vizinhos também tentaram obter ajuda da companhia, que continuava afirmando que iria 'averiguar'. Os moradores tentavam neutralizar o cheiro que vinha do andar de Sheila com toalhas e produtos de limpeza, mas relataram ao jornal que as vezes não conseguiam comer ou dormir pelo odor.
A polícia da região chegou a ir até o prédio umas duas vezes, como contam as testemunhas, mas não acharam necessário forçar entrada na casa da mulher e foram embora. Na segunda vez, um erro de comunicação fez com que a delegacia registrasse que a mulher tinha sido visitada e que estava bem.
Além disso, a Peabody, ao invés de vistar a inquilina quando ela parou de pagar as contas e seu gás foi cortado, apenas presumiu que a mulher estava sem dinheiro e solicitou pagamento do governo, que estava quitando os boletos da idosa como forma de auxílio.
A empresa se limitou a fazer algumas ligações e enviar cartas e avisos sem que ninguém fosse conferir o local.
Depois de muita insistência, as autoridades acabaram arrombando o apartamento de Sheila, e encontraram seu cadáver, em fevereiro de 2022, praticamente apenas em ossos, num estado avançado de decomposição, sendo impossível identificar a causa da morte.
Agora, meses depois que o corpo foi retirado, as famílias consideram processar os proprietários do prédio por negligência. "Estamos sendo negligenciados. Eles não se importam conosco. Eles só se preocupam com o dinheiro e nada mais", comentou Audrey, uma residente do edíficio.
Ash Fox, diretora de operações da Peabody Trust na época, disse ao inquérito que a associação habitacional está construindo um relatório independente. Ela explica que a empresa foi erroneamente informada pelas autoridades de que a idosa estava bem e lamenta a falta de comunicação.
"Havia pontos que poderiam ter sido unidos mais cedo e coisas que poderiam ter sido feitas para 'soar o alarme' mais rapidamente e reunir essas evidências" declarou. "Algo deu errado e houve um atraso nas informações. Não houve, com base nas evidências fornecidas, nenhuma comunicação real entre as equipes de aluguel, gás e gerente de bairro". As investigações continuam e o caso está em apuração.