Histórias de Catarina: Capítulo 1 – A Primeira Página

É com muita alegria que apresentamos Histórias de Catarina, o primeiro título da nossa nova seção "Séries Literárias". Inspirados nos clássicos folhetins, traremos narrativas emocionantes, contadas capítulo a capítulo, que prometem envolver e cativar você, leitor.

Nesta história de época, repleta de romance e desafios, você será transportado para o Brasil do século XIX, acompanhando os segredos do diário de Catarina e seu amor proibido por Joaquim. Prepare-se para viver intensamente cada página!

Fique atento: novos capítulos serão publicados regularmente aqui no blog. Boa leitura!

13 de março de 1870.

    Hoje é o meu aniversário de quinze anos, e enquanto as senhoras de nossa pequena vila se reúnem na sala ao lado, comentando sobre minha postura e meu futuro, escondo-me em meu quarto. Encontrei este caderno na gaveta da escrivaninha, um presente que ninguém reclamou como seu. Talvez seja um sinal para que eu comece algo meu. Um espaço só meu, onde minhas palavras possam ser livres, ao menos aqui.

Chamo-me Catarina, Catarina Monteverde. Sou filha do Sr. Robson e da Sra. Maristela Monteverde, pessoas de posições firmes e crenças inabaláveis. Meu pai, um homem sério de poucas palavras, é dono de uma plantação de café, herança de gerações de nossa família. Ele passa os dias calculando lucros e fazendo planos para expandir os negócios, sempre com o objetivo de manter nosso nome em destaque na sociedade local. Minha mãe, por outro lado, é a guardiã do que ela chama de “moral e bons costumes”. Suas regras não se aplicam apenas à casa, mas também a mim.

Minha rotina é calculada, quase como se eu fosse um peão em um tabuleiro controlado por eles. Até mesmo frequentar a escola, algo raro para moças, não é um privilégio dado por amor ao conhecimento. Não. É um investimento para me tornar uma esposa mais “valiosa”.

Foi na escola que conheci Joaquim Duarte. Ele é tudo o que não deveria ser. Um jovem simples, de família humilde, filho de lavradores que dependem do trabalho duro para sobreviver. Ele não deveria chamar minha atenção, mas o faz. Há algo nos seus olhos que me prende. Algo no jeito que ele fala, como se o mundo fosse maior do que as fronteiras invisíveis que nos cercam.

Hoje, ao final da aula, enquanto caminhávamos para a próxima lição, Joaquim me entregou um bilhete. Ele se aproximou sorrateiramente, como um ladrão de momentos, e deixou o papel em minha mão antes que qualquer colega ou professor notasse.

Era breve, mas carregava um peso que nenhuma quantidade de palavras poderia descrever:

Catarina, cada vez que olho para você, sinto como se o mundo parasse de girar. Você me inspira a sonhar. Posso te ver depois da aula, perto do velho carvalho? – J.

Aquela simples folha de papel transformou o meu dia. Enquanto o resto das aulas passava, mal consegui me concentrar. Meu coração parecia uma orquestra desgovernada, tocando uma melodia que eu nunca havia escutado. Mas, junto com a emoção, veio o medo. Meus pais jamais aceitariam algo entre nós. Para eles, meu destino já estava traçado: Bartolomeu Siqueira.

Bartolomeu era o sonho dourado de minha mãe e o herdeiro de uma das maiores propriedades da região. Ele era cortês, sim, mas havia algo frio em seus modos, como se cada palavra e gesto fossem ensaiados para impressionar. Seus pais, o Sr. Augusto e a Sra. Clarice Siqueira, eram figuras respeitáveis e poderosas, e o casamento entre nossas famílias seria mais um acordo comercial do que uma união de almas.

Quando o sino da escola anunciou o fim do dia, segui lentamente em direção ao velho carvalho que ficava nos limites da vila. Cada passo parecia um desafio às ordens implícitas que regiam minha vida.

Joaquim estava lá, encostado no tronco com um sorriso que parecia iluminar o mundo ao redor. Ele usava suas roupas simples, gastas pelo trabalho no campo, mas carregava uma confiança que ninguém poderia tirar dele.

– Pensei que não viria – disse ele, enquanto seus olhos encontravam os meus.

– Também pensei – respondi, sentindo meu rosto arder com o rubor.

Por um momento, ficamos em silêncio. O vento balançava as folhas do carvalho, e o som das cigarras preenchia o ar. Joaquim então começou a falar, contando sobre seus sonhos de explorar além das montanhas que cercavam a vila. Ele queria conhecer o mundo, longe das regras e expectativas que aprisionavam ambos.

– Você acredita que há algo mais lá fora, Catarina? – perguntou ele.

– Eu não sei – respondi, hesitante. – Às vezes, sinto que minha vida já foi escrita por outras pessoas.

– Talvez seja hora de escrevermos a nossa própria história – ele disse, segurando minha mão com delicadeza.

Aquele gesto simples foi o suficiente para fazer meu coração disparar. Pela primeira vez, senti algo diferente, uma mistura de coragem e medo, como se estivesse prestes a cruzar uma linha invisível.

Ficamos ali por mais alguns minutos, até que o sol começou a desaparecer no horizonte. Antes de partir, Joaquim apertou levemente minha mão e disse:

– Não deixe que apaguem a luz que há em você, Catarina.

Voltei para casa com as palavras dele ecoando em minha mente. Sei que estou entrando em território perigoso, mas algo dentro de mim se recusa a desistir. Hoje, escrevo a primeira página daquilo que, talvez, seja o capítulo mais importante da minha vida.

– Catarina Monteverde.

Continua...

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