A exposição prolongada de crianças a telas tem levantado preocupações entre profissionais de saúde e pais, que relatam sintomas comportamentais semelhantes ao transtorno do espectro autista (TEA). Casos recentes destacam os efeitos positivos de limitar o contato infantil com smartphones, tablets e televisores.
Nadia David Peres, médica em Belo Horizonte, compartilhou sua experiência com o filho Breno, de três anos. Para conciliar a rotina de trabalho em casa com os cuidados maternos, Peres permitia que o filho passasse cerca de seis horas diárias assistindo desenhos em dispositivos eletrônicos.
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"Ele ficava ali quietinho, mas começamos a notar comportamentos preocupantes como falta de contato visual, agressividade e birras intensas", relata Peres. Uma carta da escola destacando essas questões levou a família a buscar ajuda profissional.
Ao seguir a orientação de uma neuropediatra e eliminar as telas, a melhora foi rápida e significativa. "Em duas semanas, ele passou a interagir mais, diminuiu as birras e ficou muito mais feliz", descreve a mãe.
Fenômeno em crescimento
A atriz Thaila Ayala também relatou situação semelhante com seu filho Francisco, de três anos. Após reduzir o tempo nas telas, ela observou uma mudança drástica no comportamento do menino.
Esses casos ilustram uma preocupação crescente entre especialistas. O neuropediatra Anderson Nitsche explica que a exposição excessiva a telas pode levar a dificuldades de socialização e comportamentos repetitivos, comuns no autismo. "Com o controle do tempo de tela, a criança volta a se organizar melhor socialmente", afirma.
Impactos neuroquímicos e comportamentais
A psicóloga e neurocientista Mayra Gaiato alerta que o contato constante com telas libera dopamina no cérebro, o que pode causar desregulações emocionais e sensoriais. "Quanto mais se usa as telas, mais dopamina é liberada, gerando uma dependência que pode afetar o sono, comportamento e interações sociais", explica.
Mesmo desenhos educativos podem ter esse efeito, pois seus elementos visuais e sonoros intensos tornam outras formas de brincadeira menos atraentes.
Evidências científicas
Pesquisas começam a explorar o tema. Estudos na França e no Japão apontam associações entre exposição precoce a telas e sintomas relacionados ao TEA em crianças pequenas. Uma revisão sistemática dos EUA sugere que exposição prolongada pode agravar manifestações de TEA.
Recomendações profissionais
Entidades como a Academia Americana de Pediatria e a Organização Mundial da Saúde recomendam limitar o uso de telas por crianças, especialmente nos primeiros anos de vida, e incentivar interações sociais e brincadeiras criativas.
Histórias como a de Breno e Francisco reforçam a importância de revisarmos o papel das telas na infância e priorizarmos um desenvolvimento equilibrado e saudável para as futuras gerações.
*Com informações da BBC Brasil