Oh bendita madrugada!

A canção de Benito de Paula “retalhos de cetim” sucesso de 1973, assim exalta num samba a sua expectativa em relação à sua escola de samba: “Minha escola estava tão bonita, era tudo o que eu queria ver em retalhos de cetim eu dormi o ano inteiro e ela jurou desfilar pra mim” aplico esta inspiração do cantor àquilo que hoje sente nossas almas, esperamos o ano inteiro para ver este dia nascer!


Esta é uma madrugada bendita, dentre todas a mais bendita! Nossa espera chegou ao fim, o dia 22 de dezembro está por nascer, quando os últimos sinais da noite forem vencidos pela luz do sol, será já alvorada na nossa Batalha, e será já festa de São Gonçalo!


No alto da colina começaram a surgir siluetas de pessoas que vem ouvir a alvorada, a tocada do sino e o avanço dos ponteiros do relógio. Não vem por causa de um café da manhã que será oferecido, pois todos os presentes têm café em suas casas, mas vem atraídos pelo cheiro desse café diferente, que tem cheiro de saudade, de amizade, e, sobretudo tem cheiro de Fé!


Os dezembros de Batalha são marcador por esperas. E a vocação do ser humano é esperar! Esperamos para nascer, esperamos a morte, esperamos também encontrar um sentido para a vida, e esperamos o salário que teimosamente, vem para alguns só no fim de cada mês, e quando vem! Esperar festejos é o que eu gosto mais! E ele chegou!


E este ano nossa Igreja brilha mais que as luzes que a adornam. Brilha no espaço e no tempo, num arco de 200 anos de história, quando na aventura da Fé irmãos aqui chegaram num passado longínquo, traziam na bagagem a audácia de um povo, a garra do pioneirismo e a Fé na certeza do futuro.


Lugar de refúgio de tantos de nós, em momentos de rara beleza e espiritualidade e expressão de nossa Fé, a Igreja de São Gonçalo, é um ícone não só da beleza de nossa arquitetura, suas paredes e torre falam dentro de nossos corações e sonhos.


Quantos de nós ali na sua pia batismal não fomos batizados? Eu mesmo ainda criança fui conduzido no dia 30 de outubro de 1976 para receber o santo Batismo, quantos ali diante de seu altar, não selaram a sua união matrimonial, ou no seu patamar começou os namoros que terminaram por assinalar que tínhamos encontrado nossa alma gêmea?


Quantas vezes ali em momentos de perda dos nossos entes queridos, nossa alma não foi consolada pela oração pelos nossos parentes, que partiram para a casa celeste?


Quantas belas procissões ali já participamos? Quantos de nós dentro desse templo não recebeu o Cristo pela primeira vez na Eucaristia, na celebração tão emocionante de nossa Primeira Comunhão? Sem falar no dia inesquecível de nossa Crisma? Quantos não saíram dali alimentados pela Palavra santa de nosso Deus, anunciada em seu púlpito?


Se o melhor da festa é esperar por ela, em si tratando dos festejos de São Gonçalo, sou obrigado a discordar. O melhor mesmo é a festa!


Festejos são muitos, não é uma palavra singular é plural, e numerosos são os seus tesouros, que estão emoldurados por 200 anos de história. Para além desses dois séculos, grandes referências a lugares, acontecimentos, personalidades, fé, cultura e testemunho de Fé. Neste horizonte de incontáveis riquezas, um convite deve ser acolhido por todos e, particularmente, encontrar lugar no coração de cada batalhense. Se fazer presente nesta madrugada é reafirmar um compromisso, é lembrar dos que partiram para a casa do Pai, mas nós estamos aqui, e queremos fazer memória de todos aqueles que nos precederam no  caminho da Fé!


Podemos nesta hora sentir entre nós a alma de Manuel Fabiano e Mestre Quincas, vejo na casada da dona Bola, dona Elza machado, lá na janela de dona Deloca Dona Matildes, Teresinha, vejo pelos telhados o saudoso Zé Catarina, e ouço os gritos de viva São Gonçalo vindos da voz eletrizante do devoto Miltinho!


Hoje, 22 de dezembro, é dia de festa. A gratidão a Deus e a todos, possa gerar em nossos corações, operários desta hora e deste tempo, alegrias e coragem audaciosa para continuarmos a escrever a história desse povo!


Tomemos o café, ouvindo dobrados e valsas, regados por saudade e Fé, mas, sobretudo, renovemos a nossa esperança em dias melhores, e vivamos cada segundo desta festa, que demora a chegar e passa como a fumaça de um bule cheio de café, mas não perderá nem o sabor sem o cheiro, enquanto for madrugada, e bendita madrugada, que os primeiros raios de sol deste dia encontrem corações dispostos a serem aquecidos.


Que São Gonçalo nosso amado padroeiro, como tem feito nestes 200 anos, não nos deixem jamais sem estas madrugadas grávidas do dia 22 de dezembro, a parir festejos, alegrias e reencontros. Boa festa a todos!


Pe. Leonardo Sales

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