Crônicas

Mesmo sem cruzes visíveis, ainda carregamos dores no caminho

Sexta-feira santa. Um dia que, para os cristãos, lembra a dor de uma cruz pesada, arrastada por Jesus até o alto do calvário. Um dia que fala de silêncio, sacrifício, injustiça e esperança. Mesmo para quem não tem fé, é impossível ignorar o peso simbólico dessa data. A cruz de Cristo, mais do que um objeto de madeira, se tornou metáfora para todas as dores do mundo. E o mundo anda cheio delas.

Hoje, talvez a cruz não esteja mais fincada no alto de um monte, mas nos ombros de quem enfrenta o luto, a fome, o desemprego, a solidão. Tem gente que carrega cruz sem ser vista — mães que lutam para alimentar os filhos, jovens que perdem a esperança, trabalhadores que enfrentam a dureza da vida sem saber se o salário vai durar o mês. A sexta-feira santa nos lembra disso: há dores que não aparecem, mas que pesam tanto quanto.

O julgamento de Jesus também ecoa nos dias de hoje. Ele foi traído, acusado injustamente, condenado sem direito de defesa. Quantos ainda são tratados assim? Quantas pessoas são silenciadas, invisibilizadas, descartadas? A cruz que Jesus carregou não foi só dele. Foi, e continua sendo, de todos os que são vítimas da injustiça e da intolerância.

Mas a sexta-feira santa não termina na cruz. O silêncio do túmulo, que parece definitivo, é só parte do caminho. A fé cristã acredita que depois da morte veio a ressurreição. E aqui está a beleza do símbolo: a dor tem fim. A morte não é a última palavra. Sempre existe uma possibilidade de recomeço. Em tempos tão duros, é bom lembrar que, mesmo depois da noite mais escura, o sol volta.

Não precisa ser religioso pra entender o recado. Talvez o convite da sexta-feira santa seja esse: parar um pouco, olhar em volta, reconhecer as cruzes que o mundo carrega — e, se possível, ajudar alguém a aliviar o peso. Mesmo sem milagres, um gesto de cuidado já pode ser uma forma de fé.

Porque, no fim das contas, a sexta-feira santa também é sobre humanidade. Sobre aprender a sentir a dor do outro, sobre não fugir daquilo que é difícil. E, principalmente, sobre acreditar que, mesmo em meio à dor, ainda vale a pena amar.

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